quarta-feira, 16 de maio de 2007

domingo, 13 de maio de 2007




O DONO DO SOM

O Dono do som
Era um sábado de manhã. Eu estava provavelmente naquilo que minha mãe chamava de décimo sono. Coberto não só pela colcha macia que minha bisavó tinha feito pra mim como pela coxa de uma Srta. qualquer.Moro no Bongi um pequeno banlieu do Recife num pequeno edifício, em um apartamento que meu pai (um cara gente boa) me emprestou pra eu não perturbar mais ele com as minhas manias como ele sempre repete. Uma delas, acordar tarde.Mas era sábado de manhã, era cedo e eu tava de ressaca, quando de repente:SALVE CRISTO REI. Gritou provavelmente o dono do som.VIVA JESUS CRISTO um coro ecoava. Não tenho nada contra manifestações religiosas,porém saindo do apartamento do vizinho do 401 passando pelo corredor do prédio subindo as escadas e chegando ate meus tímpanos ,atingindo meu cérebro como um choque. Um som ensurdecedor. Eu não vou nem falar muito pra vocês não dizerem que é mentira. Eu me contorcia na cama como quem tem ao pé do ouvido aquelas buzinas de spray muito usadas no carnaval de Olinda. Eu acredito que o camarada tenha gasto uma fortuna para produzir um som daquele.O infeliz que faz isto acha que é dono do meu som ou do meu silêncio do som que me cerca. A minha amiga dormia parecendo parte da colcha. Eu não tava entendendo direito na verdade. O barulho não me permitia refletir (não é exagero). A coitadinha tinha tomado uma garrafa de rum com coca e eu ainda a fiz ficar acordada ate mais tarde.Eu tentei juro. Serio mesmo. Mas não deu. Coloquei uma calça, uma camiseta escrito I Love NY, e descalço como Jesus no caminho do calvário desci e fui ate o apartamento do dono do som. O cara tava de porta escancarada com toda sua família eu acho pois todos se pareciam e muito, meio cheinhos, sabe né um excesso de fofura adiposa .Acho que comemoravam um batizado ou algo assim.Não tenho nada contra batizados.Alguns parentes sentados e outros que pareciam não conseguir sentar.A sala bem arrumada e decorada com faixas e bolinhas brancas. Então entrei. Caminhei suavemente e pedi o microfone. Que neste momento estava na mão de uma senhora que deveria ser a líder do bando.Ela me negou e eu tomei da mão dela num golpe rápido e gritei :EU QUERO DORMIR CARALHO!!!!!.De repente recebi na testa uma coisa meio bolo de ameixa, meio algo com queijo. Não deu de novo. Eu juro.É serio mesmo.Eu tentei. Pulei em cima do primeiro gordinho que levantou.Em 12 minutos a policia tava lá .Foi um dos tempos mais longos da minha vida.Levei pancada ate em partes do meu corpo que eu nem sabia que existiam.Depois de dois meses eu voltei do hospital ainda de muleta e eles haviam se mudado.Era um sábado de manhã. Fazia silêncio.
OScar Malta/Recife Maio de 2007